“This is no flattery. These are counselors
That feelingly persuade me what I am.”
(As You Like It, Shakespeare)
Um bom conselho não pode ser dado por quem não desfruta das doçuras da liberdade. Um bom conselho não pode ser dado por quem lhe deve a vênia, o cargo, uma mercê. Pessoas dessa categoria só servem para encher-lhe os ouvidos com palavras enganosas: espelhos que o persuadem de ver, mas ocultam o que há por trás. É claro que não estamos falando de incompetência. O seu estagiário, embora saiba muito bem que o seu poema rimando lua com falua é um lixo, muito provavelmente não lhe dirá a verdade. Mente porque não é livre, e seu conselho não terá valia. É como se ele tentasse vender um carro dizendo ser invisível e você acreditasse.
Mas não só o conselho do não-livre é inútil. A síndica do seu prédio, que às sextas-feiras faz curso de pintura em pano de prato, embora não lhe deva satisfações, nem por isso saberá opinar sobre o seu corte de cabelo. A inocência de um conselho não garante que será um bom conselho. Não que não sejamos capazes de apreciar a ingenuidade. Sabemos muito bem o que se esconde por trás; não ignoramos a profunda raiz de verdade que a sustenta. Apenas que... preferimos... bem, você sabe. Que os sacerdotes cuidem dessas pobres criaturas.
O bom conselho, esse só poderá ser dado por aquele capaz de dizer-lhe bem e mal, mas principalmente mal. É muito mais o açoite do que o afago. Suas palavras não são espelhos, mas punhais de gelo: impassíveis ao seu sofrimento. Antes sofrer pelos punhais do que continuar a refletir-se inutilmente. A vaidade é sempre um logro. É difícil dizer sempre, mas parece ser a verdade. Que nos convençam o quanto antes do ridículo que fazemos. Que um pé de jaca caia sobre nossas cabeças durante nossa melhor apresentação. Que nos digam logo o que somos e o que não podemos ser.
Não ignoro, é claro, a dificuldade de identificar um bom conselho. É talvez aquele que se assemelhe o quanto possível a um raio, a uma tempestade, a um deslize de terra. Um impacto simples, instantâneo, visível. Algo que nos assolasse a imagem refletida no lago como a sombra de um pássaro enorme e que nos fizesse voltar os olhos para cima com um tremor da alma. Não é, certamente, o simples adágio que a sua vizinha sabe de cor e aprendeu com o avô. É um fisgar profundo, frio que o trouxesse para a superfície, para o gole de ar honesto e estimulante.
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