"Fazia questão de que a chamassem pelos dois nomes, Joyce Emily. Esta Joyce Emily estava tentando por todos os meios entrar para o famoso grupo e achava que os dois nomes poderiam estabelecê-la como alguém, mas não havia a menor chance de isto acontecer e ela não conseguia compreender por quê". (Muriel Spark, A Primavera da Srta. Jean Brodie).
Joyce Emily certamente não compreende que os círculos do mundo - os que verdadeiramente merecem tal dignidade - não se abrem àqueles que não foram feitos para eles nem se fecham aos que naturalmente lhe pertencem. Pertencer a um grupo não é aquisição nem conquista, mas um encaixe a que desde sempre se estava destinado. Mas não somente por questão de natureza. Círculos formam-se e fecham-se de acordo com questões muito mais factuais do que se gostaria. A razão do número, por exemplo. Não se há de imaginar que grupos numerosos possam sobreviver por muito tempo enquanto tais. Gradualmente se quebrarão em outros, mesmo que suas partes sejam parecidas o suficiente para constituírem uma unidade. É esperado que determinados círculos fechem-se em razão de não desejarem ser cinco, mas somente quatro. De outro modo, que seriam? Mas há ainda outra questão muito mais importante do que a do número. Os círculos do mundo são mais do que singularidades reunidas por algo em comum. São rodas de carroceria, de moinhos, de uma mesa de chá. A lealdade que os liga não é apenas de natureza, mas de casos que a sorte ou a providência divina criou e que não poderão ser recriados sem que isso implique no aviltamento de seus integrantes. Pequenas questões, mínimas histórias, como folhas secas arranjadas casualmente pelo chão, vão marcando e limitando os corações, preparando-os para especiais recepções que jamais - jamais - serão destruídas ou falsificadas. Joyce Emily não poderá entrar para o grupo da Srta. Brodie, não simplesmente porque sua natureza destoa de suas integrantes, mas principalmente por carecer daquilo que as lançou em um laço comum. As pequenas marcas de ferro quente em suas peles que lhes dão tanta doçura e causam tanta inveja decidiram para sempre quem lhes pertence e quem não. Semelhantes círculos não seriam tão prestigiados e tão queridos se fossem meramente esquemáticos, vazios e livres. É o fato de surgirem com a própria vida que os torna únicos e, por isso mesmo, restritos, como ervas que se entrelaçassem naquele parapeito e em nenhum outro mais.
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