"(...) conjuro-vos, então, a não ceder hoje,
a lutar bem junto à espuma das vagas na areia
e a garantir dessa forma a própria sobrevivência,
mantendo o domínio sobre este local."
Tucídides, Livro IV, § 10
Tucídides, Livro IV, § 10
Nada de especial se lido isoladamente. Porém, se comparado com o restante do texto - impessoal, longamente discorrido - é como um copo d'água em um deserto. As imagens sobrepostas, a nitidez com que se vislumbram os pés dos soldados fincados na areia fazem de um detalhe breve o resumo de toda a ideia: que lutem firmes, sem jamais perder o ânimo; que mantenham suas posições, custe o que custar; que permaneçam em tal lugar e batalhem de tal e tal maneira, pois só assim se obterá a vitória. Mas cem palavras como essas não alcançariam a força e a precisão das que, sendo escolhidas entre muitas, são poucas e valiosas. Não somente, no entanto, é a seleção a responsável pelo seu valor, mas a sua raridade, a palavra em si mesma, também a eleva perante as demais. Pois a poesia - ah, sim, é de poesia que penso tratar-se - não é resultado de um mero esforço, de um trabalho de ourives. Talhem o quanto quiserem a pedra vulgar, não alcançarão algo muito maior do que a própria matéria permite e condiciona. Se não me engano, Maiakóvsky insistia muito na importância do trabalho para o poema. Ele e tantos outros. Mas o que não é para ser poesia jamais o será, independentemente do quanto se desgastem sobre. A pretensão nada é quando os meios não a acolhem. É necessário que as palavras certas sejam encontradas, e não criadas pelo artífice fugaz e apaixonado.
E é claro que eu já me distanciei do que pretendia. Queria apenas dizer o quanto me agrada ver uma sentença bem composta e viva em meio ao que é apenas um texto. O efeito, assim entendo, não teria sido o mesmo se eu o houvesse encontrado dentro de um texto com intenções poéticas. E como disso eu pretendi dizer algo a mais? Apenas que o trabalho incessante não é essencial, é até mesmo dispensável. Mais vale a espontaneidade do que já se sabe do que o saber através do aprendizado árduo. Sempre aquele será mais leve, mais fulgurante, melhor. Este apenas o copia como pode. Os poetas sabem disso, mas alguns deles parecem comprazer-se em iludir os que não sabem de que de algum modo eles poderão saber.
E é claro que eu já me distanciei do que pretendia. Queria apenas dizer o quanto me agrada ver uma sentença bem composta e viva em meio ao que é apenas um texto. O efeito, assim entendo, não teria sido o mesmo se eu o houvesse encontrado dentro de um texto com intenções poéticas. E como disso eu pretendi dizer algo a mais? Apenas que o trabalho incessante não é essencial, é até mesmo dispensável. Mais vale a espontaneidade do que já se sabe do que o saber através do aprendizado árduo. Sempre aquele será mais leve, mais fulgurante, melhor. Este apenas o copia como pode. Os poetas sabem disso, mas alguns deles parecem comprazer-se em iludir os que não sabem de que de algum modo eles poderão saber.
3 comentários:
Murílio, seu sarcasmo é muito IrReVeReNtE.
Lady Joachinna! Eu realmente não esperava pela sua vinda. Também, depois daquele escândalo familiar, não achei que um dia teria a audá... Quero dizer, não repare na bagunça. Meus criados estão providenciando-lhe um quarto.
Mas que sarcasmo? Reli e não sei a que você se refere. Se eu dei a entender que falei mal de Tucídides, saiba que eu lhe tenho grande estima. Inclusive, prefiro ele a Heródoto. Mil vezes. Cem mim vezes.
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