quinta-feira, 24 de maio de 2012

Píndaro

"A glória só tem pleno valor
quando é inata. Quem só tem
o que aprendeu é um homem obscuro e indeciso,
jamais caminha com o passo firme.
Apenas esquadrinha
com maturo espírito
mil coisas altas."

Terceiro canto nemeu. Agora o deixarei de lado para poder falar tranquilamente somente por mim. Estou violando uma de minhas regras, que é não expor particularidades, mas sei que encontrarei expiação em algum momento. Uma dessas particularidades é que o poema toca em uma de minhas maiores preocupações. A outra é que não apenas penso singelamente que a natureza pode poupar-nos esforços, mas que com ela esses esforços ganham maior valor. Porque o que consigo por meus próprios meios é sempre falho e opaco; não são senão cópias grosseiras e afetadas perto da "glória inata". Enquanto os bem nascidos caminham com desenvoltura e retidão, os demais tateiam trêmulos por suas escarpas para jamais atingir o topo. Pois os meios não garantidos por natureza não levarão muito além de sua condição, e qualquer coisa que alcancem parece estar sempre na iminência de despedaçar-se como se ousassem suspender sobre suas cabeças um mar revolto de que pouco sabem. "Apenas esquadrinha com maturo espírito mil coisas altas". É que a natureza é maior e o homem não pode recriá-la senão defeituosamente: desnaturando-se.

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