sexta-feira, 11 de maio de 2012

Império I

Creio que determinados lugares contaminam as pessoas, enfraquecem-nas. Departamentos públicos são o exemplo mais comum e anedótico. Quando dependo de ir a um, sinto como se estivesse entrando em um redemoinho lento e fatigante de areia. É a opressão descrita por Kafka: vaga, distante e ignorada até mesmo por aqueles que a impõem, pois é anônimo o poder que recebem. Mas pode ser também como a mansidão depois do almoço, um olhar dominante e sonolento. As faces vão ganhando dobras de tinta; os ventres, crescendo como abóboras velhas e amolecidas. E quem dirá que as abóboras também não são alegres? Pesadas e macias como se desfrutassem de uma felicidade tediosa e paralisante. Isso também ocorre em outros lugares, mas essa é a regra ali. 

É como se seus funcionários estivessem, durante todo o expediente, de alguma forma entretidos com molas de brinquedo, maravilhando-se com suas muitas cores e seu tremor titubeante. Qualquer coisa que lhes pergunte parece desconcertá-los. Alguns, mais profundamente absortos, chegam a assustar-se, deixando a molinha de brinquedo cair de suas mesas e acompanhando-a estupefatos em seu humilde e jocoso caminho até os meus pés. "Ah... há alguém ali na soleira da porta" parecem constatar. Não me olham com qualquer curiosidade, mas com decepção e um sorriso frouxo. A tarefa, que antes me parecia tão simples, torna-se longa, cansativa, fazendo-me débil e igualmente atraído pela molinha de brinquedo. É necessário trazer à lembrança minha casa para libertar-me de seu estupor.

Soubessem as antigas civilizações disso, rapidamente teriam repelido, senão para sempre, durante um bom tempo, a ameaça dos povos das estepes. Bastaria que dispusessem entre eles e as fronteiras do norte um longo sistema de atendimento, com muitos balcões, corredores e salas repletas de funcionários. Cavalaria alguma lhes seria páreo. Grandes senhores seriam obrigados a descer de seus carros de combate e a enfrentar uma longa fila, implorante pela atenção de um funcionário que há mais de quinze minutos brinca e baba com uma molinha de aros coloridos. E de nada adiantaria apontar-lhe dedos ou ameaçá-lo com a espada, pois não haveria nada, absolutamente nada que o funcionário pudesse fazer. Restaria apenas largar-se a um canto e esperar por um destino de gente satisfeita.

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